[ARTIGO DE OPINIÃO] A importância do apoio da família no meio LGBTQI
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais,
Transgêneros, Queers e Intersexuais
(LGBTQI) são cidadãos detentores de direitos e deveres como todas as pessoas.
Contudo, historicamente, essa população tem sido privada de direitos em
decorrência dos preconceitos existentes na sociedade, começando pela própria
família. A relação que edificam com suas vidas privadas, no convívio com os
familiares e na aceitação ou não de suas sexualidades, causa, principalmente
nos jovens, marcas subjetivas díspares que interpelam a forma como se constroem
socialmente, mostrando a ligação contínua do crescente número de suicídios à
escassez de amparo familiar. Na busca pela compreensão desse relacionamento e
suas consequências, a presente pesquisa aborda a importância do apoio da
família no meio. Para compreender a situação vivenciada por esse grupo social, foi aplicado um formulário no qual cada pessoa pôde
responder de acordo com sua orientação sexual e diversidade de gênero,
perspectiva teórica e política, com perguntas a respeito da discriminação
sofrida na rua, na família, se conhece gente que se suicidou por ser LGBTQI,
ofensas e agressões infligidas em casa, além do mais importante: como seria
diferente se houvesse esteio familiar.
Contando com 1373 pessoas, a pesquisa revelou que o respaldo
da família facilitaria a vida de 94,7% dos LGBTQI consultados. Ainda, que 31,5%
conhecem alguém que cometeu suicídio em contexto de desamparo por se reconhecer
integrante desse público, o que é um número alto de recorrência. Quando
menosprezado e humilhado em distintos espaços sociais - por exemplo, a escola -
por ser considerado detentor de atributos culturalmente depreciados, como
pobre, magro, feio ou negro, um filho chega e encontra na família um porto
seguro, sua sustentação. Se, entretanto, regressa ao ninho e é chamado de
“viadinho”, “sapatão”, apanha da família para aprender a ser homem ou mulher de
verdade. O questionário também apontou que 99,2%
são LGBTQI e 0,8% se declararam héteros, 86,2% já sofreram preconceito e
37% das famílias não os recepcionaram bem.
Relatos de preconceitos sofridos: o pai que espancou o
filho; um casal agredido na rua por ser homossexual; um rapaz que levou oito
facadas desferidas por um “amigo” heterossexual. Discriminação, rejeição,
exclusão e violência são só fragmentos dos fatos denunciados por pessoas
agredidas, ameaçadas, desprezadas, humilhadas por expressarem quem são.
As famílias tendem a agir de modo devastador, como
evidenciam as experiências contadas a seguir. Foi muito difícil para um rapaz
de 15 anos que cresceu em um lar cristão evangélico; a pior parte, citada por
quase todos, foi a autoaceitação. Outro se flagelava psicologicamente ao negar
quem realmente era, descrevendo como uma sensação que não desejava para
ninguém, de viver em um mundo atuando em roteiro alheio, sem sobreviver
plenamente. Um terceiro tentou tirar a própria vida por não poder se assumir. A
mãe quis curá-lo, rogou praga, infernizou, e agora ele luta contra o trauma. O
quarto entrou em depressão. Quando seus pais
descobriram, tinha 15 anos. Como não souberam lidar com isso, até os 19 anos,
época na qual saiu de casa, uma sucessão de acontecimentos - religiosos e
morais - o levaram a três tentativas de suicídio e a uma baixa autoestima que
se esforça para superar.
Enfim, as vivências compartilhadas ressaltam a associação da
falta de apoio familiar ao número de suicídios no meio LGBTQI. Os membros da
comunidade tentam diariamente provar que são dignos de respeito. Um LGBTQI
precisa justificar muito mais seu valor por amar alguém do mesmo sexo, fator
que já o determina socialmente como aberração. Ser singular não torna ninguém
melhor ou pior, isso faz o mundo se configurar como plural.
Como expõe a pesquisa, 21% não se assumiram, o que ocorre
muito por medo. Na pesquisa foi perguntado se era assumido e se não para
explicar o que o fez não se assumir. É melhor se privar para agradar a família,
a sociedade, fazendo a vida perder o sentido, abdicando de toda beleza de viver
e ser livre, preso a uma rotina normativa onde não cabe.
Apesar da existência de leis que amparam com direito a
casamento, à adoção, há os que são retirados, refletidos na perda de empregos e
nos abusos no trabalho dos empregados LGBTQI. Hoje se vê muitos filhos
angustiados pela desaprovação dos pais, filhas tristes porque suas famílias não
as acolhem.
Família é base. Então, pais, seus filhos só estão sendo quem
eles nasceram para ser. Peguem um cachorro e esperem ele botar ovos, capturem
um peixe e aguardem-no subir em uma árvore. Isso jamais se concretizará. Não
cobrem que pareçam o contrário de quem vieram ao mundo para se tornar.
A vida em si já é tortuosa, ninguém precisa de uma família
que deixa o fardo ainda mais pesado. A primeira palavra que vem à mente quando
se pronuncia família é amor, por que é tão difícil obtê-lo, alcançar respeito,
compreensão? É entendível como é penoso para os pais consentirem, aliás, para
todo filho se admitir. Não é fácil olhar para você e se enxergar heterogêneo,
tentar namorar pessoas do sexo oposto, ser como a família queria que fosse. Não
é simples ser quem você não é, travar lutas internas, intermináveis, para se
enquadrar.
Pais, orem por seus filhos, mantenham eles próximos ao
convívio do lar. Não é motivo de vergonha serem homossexuais, gays, bichas,
sapatões e tantos outros adjetivos que os aviltam. É preciso ter orgulho, pois
mesmo com toda a adversidade, foram homens e mulheres o suficiente para se
assumirem. Mulher para dizer à família o que realmente gosta, homem para
afirmar que aprecia caras de igual sexo e quer lhes poupar, parar de mentir,
deseja que vocês façam parte da vida deles. Ao lhes expor que ama uma moça, sua
filha quer partilhar com a família quem ela é, à maneira como se sente
realizada.
REFERÊNCIAS
A Família na Constituição Federal de
1988. Disponível em: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5640/A-familia-na-Constituicao-Federal-de-1988. Acesso em 13 nov. 2017
A União Homoafetiva Como Entidade
Familiar. Disponível
em: https://www.lfg.com.br/conteudos/artigos/geral/a-uniao-homoafetiva-como-entidade-familiar.
Acesso em 13 ago. 2018
Amor Gay Dores. Disponível em: https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=4028174668082032547#editor/target=post;postID=7389223536626821923;onPublishedMenu=allposts;onClosedMen
HYPERLINK "https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=4028174668082032547"u=allposts;postNum=6;src=postname. Acesso em 13 ago. 2018
O Estatuto da Família. Que Família? Disponível em: http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2015/10/05/o-estatuto-da-familia-que-familia/. Acesso em 12 ago. 2018