[ARTIGO DE OPINIÃO] Os efeitos da pandemia do coronavirus na educação
A propagação em
escala mundial do Coronavírus, impôs aos governos de praticamente todas as
nações a tomada de medidas drásticas, no primeiro momento voltadas sobretudo
aos sistemas de saúde, mas outros setores nomeadamente econômicos, sociais,
políticos, assim como educacionais também foram profundamente afetados.
No caso do setor
educacional, este cenário sem precedentes exigiu rápida e inédita reação de
políticos e gestores públicos de todos os países, que, de maneira quase
universal, optaram pelo fechamento provisório de escolas públicas e
particulares, na tentativa de atenuar a propagação do vírus. De acordo com a
Unesco, até os finais de março, 165 países tinham fechado suas escolas,
interrompendo as aulas presenciais de 1,5 bilhão de estudantes e mudando a
rotina de 63 milhões de professores de educação básica.
Atualmente, são mais
de 90% dos alunos impactados por essa medida, sendo que no Brasil, a suspensão
das aulas presenciais já é realidade em todas as Unidades da Federação. Igualmente,
ações emergenciais têm sido tomadas, nomeadamente, a transferência de aulas e
outras atividades pedagógicas presenciais para formatos a distância, buscando diminuir
os efeitos do distanciamento social no aprendizado dos alunos e manter de certa
forma as escolas em atividade.
Este cenário trouxe,
ao centro do debate educacional, a necessidade do uso das tecnologias
educacionais para realização de atividades escolares num sistema remoto, considerado
como medida emergencial. Para o efeito, Governos Estaduais e Municipais, foram
obrigados a investir na aquisição de meios técnicos e tecnológicos e na
preparação dos professores para o desenvolvimento de situações de aprendizagem
remota, cujo uso ou manejo, para muitos, era até então desconhecido. Foi algo
que ninguém estava preparado e todos precisaram se reinventar.
A partir de
então, o grande desafio enfrentado pelo setor educacional no mundo todo, tem a
ver com esta imprevisibilidade numa área que tradicionalmente não tem uma cultura
digital, do trabalho remoto ou da educação à distância em suas ações, sendo
portanto novo e complexo sobretudo para quem trabalha com educação básica,
tendo em conta todas as condicionalidades inerentes ao uso destas ferramentas pelos
envolvidos (escola, professores, alunos, pais e encarregados de educação).
No
caso brasileiro um outro desafio enfrentado, tem a ver com a necessidade dos
governantes tomarem medidas para que todos os alunos tenham acesso à internet
pois segundo a Pesquisa TIC Domicílio, realizada em 2018, no país, mais de 30% dos domicílios não têm sequer acesso à internet, sendo
em geral das famílias mais desfavorecidas.
Para fazer
frente a situação e garantir a manutenção da educação para todos a Unesco elaborou
uma lista de recomendações que devem ser consideradas pelas instituições
educacionais públicas e privadas de todo o mundo em meio à pandemia:
a) Que se
preserve empregos e salários dos funcionários, destacando que "a crise não
pode ser um pretexto para baixar os padrões e desmerecer direitos
trabalhistas";
b) Que se priorize
a saúde e o bem-estar de professores e alunos, em meio ao estresse e à
crescente exposição da população global ao coronavírus;
c) Que se dê voz
aos professores no processo de planejamento das respostas educacionais, além de
oferecer-lhes treinamento adequado para lidar com as circunstâncias;
d) Que se
coloque a igualdade no centro dos debates. "Soluções tecnológicas que
assegurem a continuidade do ensino frequentemente exacerbam as
desigualdades", afirma documento da Força-Tarefa Internacional de
Professores pela Educação, da Unesco. "Educação à remota e virtual só são
eficientes para professores, estudantes e famílias com eletricidade adequada,
conexão à internet, computadores e tabletes, e espaço físico para
trabalhar.".
Lembrando que aqui
no Brasil, na ausência de uma política nacional de enfrentamento por parte do
Governo Federal, Estados e Municípios se organizaram de forma diversa, em que consequentemente,
as respostas para a situação têm sido bem diferentes.
Na verdade, apesar
de todos os esforços empregados nestas ações, tanto em escala nacional ou
mundial, os sistemas de ensino têm se esbarrado nas suas fragilidades, tendo esta
pandemia apenas evidenciado ainda mais as desigualdades, demonstrando o quanto
ainda há por se fazer até que a educação se torne realmente um direito adquirido
para todos, de todas as classes sociais e em todos os níveis de ensino.