[ARTIDO DE OPINIÃO] Liberalismo e intervenção estatal


 Karine Daiane Zingler [1]

    O papel do Estado na economia, a discussão sobre a importância de equilíbrio dos gastos públicos e, ao mesmo tempo, o entendimento do lugar destes no processo de desenvolvimento econômico e redução das desigualdades têm permeado discussões ao longo dos séculos. Desde a publicação da “A Riqueza das Nações” de Adam Smith, em 1776, que inaugurou a Ciência Econômica em um contexto da Revolução Industrial inglesa, se pregava a liberdade econômica e menor intervenção do Estado. Mas, ao longo do tempo, novos desafios e contextos foram se somando à complexidade econômica.
            Destes o mais profundo impacto, até então, havia ocorrido após a crise de 1929, quando o sistema financeiro estadunidense entrou em colapso, com a quebra da Bolsa de Nova York. A partir daí se percebeu que a liberdade econômica era importante, mas que especialmente em períodos de crise a ação estatal era fundamental para evitar uma depressão econômica mais profunda, conforme as reflexões de John Maynard Keynes.
            Porém, a partir da década de 1970, o chamado modelo de “bem-estar social” começou a entrar em crise, e o avanço do neoliberalismo foi pactuado pelo “Consenso de Washington”, em 1989, que deliberava para América Latina um receituário de redução da intervenção estatal como meio de garantir o crescimento econômico. A partir daí, políticas privatizantes e a abertura econômica foram visualizadas cumulativamente em diversos países ao redor do mundo.
            Agora, desde os primeiros meses da segunda década do século XXI uma grande alteração de contexto força uma nova percepção da importância do Estado na Economia. A Pandemia da Covid-19 anunciada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 11 de março de 2020 colocou em alerta o mundo inteiro e fez com que governantes e economistas, ferrenhos defensores da retração do Estado e de ajustes das contas públicas, abandonassem velhos dogmas em virtude de uma situação jamais vivenciada pelas diferentes gerações. Então este parece ser um novo momento de ruptura de antigas visões sobre o papel do Estado na Economia. Porém, não há de se menosprezar o efeito no futuro das contas públicas, por isso certamente, adiante, haverá de se discutir novas fontes de financiamento do Estado, quem sabe uma oportunidade para o Brasil resgatar o “Imposto Sobre Grandes Fortunas”, previsto pela Constituição de 1988 e “guardado” desde lá.
_____________________________________________________

[1] Drª em Desenvolvimento Rural, Bacharel e Mestre em Economia, professora adjunta e coordenadora do curso de Administração Pública da Uergs - unidade Frederico Westphalen

Imagens de tema por luoman. Tecnologia do Blogger.