REPRESENTAÇÃO: O PODER DO OLHAR
REPRESENTAÇÃO: O PODER DO OLHAR
Texto publicado no Jornal Novo Noroeste no dia 05.06 |
Quem eu sou? Como me vejo? Como olho e vejo o outro? Que representações tenho construído da minha vida e da sociedade? Quando se fala em representação volta-se para a relação entre o “real” e a “realidade” e as formas pelas quais esse “real” e essa “realidade” se tornam presentes para nós, se tornam representados a partir da nossa avaliação.
O que significa dizer, que muitas vezes sofremos ou nos alegramos em função de representações, que por mais que pareçam reais, estão muitos mais ligadas ao nosso olhar e compreensão da vida do que propriamente à realidade. Os “universais” da cultura são, pois, sistemas de significação cuja pretensão consiste em expressar o humano e o social em sua totalidade, constituindo-se em sistemas de representação, isto é, construções sociais e discursivas parciais e particulares dos grupos que estão em posição de dirigir o processo de representação. Nesse sentido, a “política de identidade” se situa na interseção entre representação – como forma de conhecimento – e poder. Em virtude disso, alguns pressupostos de que para ser feliz preciso deste ou daquele bem, preciso ter um corpo com esta ou aquela forma/aparência estão diretamente ligados à forma como olhamos e nos deixamos influenciar pelo olhar e representações criadas pelos outros.
Os meios de comunicação exercem grande poder de representação em nossa sociedade, da mesma forma os textos que circulam em diferentes suportes textuais. No entanto, cada um embora seja exposto à diferentes formas de representação, a partir do seu olhar vai construindo significados.
Neste caso, reconhecendo o papel ativo da visão na formação da representação. Muitas das operações próprias do poder se realizam e se efetivam no olhar, por meio do olhar. É pelo olhar que o capitalismo sobrevive, porque suas premissas estão na cabeça de todos, despertando desejos consumistas. É pelo olhar que o pai demonstra o seu amor e respeito pela mulher e filhos. É pelo olhar que a igreja condena ou perdoa seus paroquianos. É pelo olhar que nós observamos e analisamos as diferentes “realidades/representações”, ora como pesquisadores, ora como seres humanos e ora como ambos, pois esses olhares se misturam e tem momentos que não se sabe se o que significamos foi pelo olhar do pesquisador ou do ser humano. E, além disso, é interessante perceber que nossa visão é seletiva e incapaz de transmitir com exatidão uma realidade a ser avaliada. Na verdade, é importante pensarmos no poder do olhar e da representação, para entendermos que, na verdade, cada ponto de vista, é uma vista de um ponto. Precisamos ampliar o nosso olhar. Precisamos aprender a olhar para as coisas e vê-las não apenas do ponto de vista do significado, mas despertarmo-nos para vê-las a partir da sensibilidade.
Desta forma, pode-se dizer que é na representação que o poder do olhar e o olhar do poder, se materializam; é na representação que o visível se torna dizível. É na representação que a visibilidade entra no domínio da significação. Nesse sentido, é possível concluir que a representação não é apenas resultado de um olhar que, após cumprir sua missão, retira-se para o reino das coisas visíveis. O olhar, como uma relação social, sobrevive na representação, uma vez que ele não é apenas anterior à representação, mas as imagens produzidas sobrevivem para além do seu tempo, como destaca Tomaz Tadeu da Silva, na obra “O currículo como fetiche: a poética e a política do texto curricular”. Assim, da mesma forma que há uma conexão necessária entre representação e poder, há uma conexão correspondente entre visão e poder. E são essas relações de poder que produzem sujeitos e constroem realidades. É a partir do nosso olhar e do olhar do outro que vamos nos constituindo. Como você tem olhado para a vida?
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