[ARTIGOS DE OPINIÃO] A humanidade virtual na busca de um milagre

janeiro 03, 2018

 A humanidade virtual na busca de um milagre

Texto de Ramão Chagas


Cada pessoa tem seu campo verdejante ou seu deserto emocional. Na construção do caráter, há campos minados espalhados pelo caminho. Uma personalidade que tenha estrutura para atravessar estes territórios, deve começar a ser forjada ainda quando criança. Aqui começa o nosso grande desafio como pais, porque somos treinados para sermos bons profissionais, mas não somos treinados para sermos bons pais. Crescemos sabendo pouco da vida e a sociedade é um exemplo de advertência. Além de começar muito cedo nossas implosões internas, quase sempre ficam sem conserto, pois acreditamos que a ferida cicatriza por si só.

O dom da vida pede sobriedade emocional a todo momento, pois os acontecimentos são muito diversificados e nem sempre as pessoas têm bons escudos para se proteger das adversidades. O ser humano, em sua constante evolução, singrou os mares e o espaço, no entanto ainda é um ilustre desconhecido de si mesmo. Ainda não desvendou os próprios mistérios e por conta desta ignorância, leva uma vida com muitas fragilidades. As pessoas ficam magoadas pelas mínimas coisas e mesmo sendo mínimas, têm um poder de fogo devastador. Não é incomum as pessoas sofrerem uma crítica e entrarem em crise.

Só é possível conquistar o emocional, quando se aprende, aos poucos, o papel relevante e o significado mais profundo de cada sentimento. Conhecemos as palavras, mas não conhecemos seus significados. Definir o que significa tolerância, todos sabemos, no entanto, colocá-la em prática exige disciplina mental. Teoricamente ouvimos discursos que empolgam, livros que mostram novas possibilidades, mas a grande maioria consegue apenas dar alguns elogios relacionados, quanto à prática, fica para outro momento.

As nações fazem tratados de paz que logo em seguida deixam de ter validade. Também fazemos nossos tratados para tornar a nossa vida mais leve, mas logo também cai no esquecimento. Seria mais proveitoso conquistar o infinito que está dentro do ser, pois descobriríamos que a vida é uma dádiva e não um fardo.

Há uma humanidade pendurada pelo pescoço, agonizante, mas este sofrimento não tem sido a lição que habilita para novos recomeços. Deixamos de ser líderes de nós mesmos e muito pouco sabemos sobre nossos sentimentos. Soma-se a isso o pouco controle que temos, quando despertam em nós o instinto primitivo. Padrões comportamentais definem a forma de vida e o que teremos como resultados. Ficar prisioneiro da própria mente, depois que vira hábito, transforma o ser humano num dependente de seu modelo de pensar e fazer as coisas. As pessoas estão com sua capacidade de resiliência num nível muito baixo, pois para compreendê-la é necessário mais do que teoria, precisa-se de sabedoria.

A geração que temos hoje já nasceu comprometida, porque seus educadores não estão preparados para ensinar. O legado que ficará será exatamente o que os pais aprenderam e passaram. Olhando para a geração contemporânea, temos a nítida impressão que falhamos na edificação emocional e espiritual de nossos jovens. Os filhos estão perdidos e sem rumo e os pais atordoados se fazendo a mesma pergunta: onde foi que eu errei? Os que virão deles tomarão a mesma estrada e também não saberão o que fazer com ela.

Territórios emocionais quando não conquistados, tiram a segurança das pessoas. Se você não conquistou a paciência, quando dela precisar não estará à disposição. Se não conquistar a compreensão, não saberá como lidar quando for desafiado. Se não conquistar a essência da

perseverança, deixará muitos projetos para algum dia no futuro. É necessário viver consciente das necessidades para a construção sólida da personalidade.

Olhemos para as pessoas bem-intencionadas: muitas delas estão satisfeitas em apenas saber que têm pensamentos solidários e caridosos, mas podem estar muito distantes da realidade prática. Se fraquejamos na construção de caminhos sólidos, acabamos ficando escravos de nosso próprio sistema de gerenciamento pessoal. Aprendemos a lidar com equipamentos sofisticados, mas nenhum deles têm capacidade para melhorar o caráter. Quando perdemos o contato com nossa natureza, a comunicação fica encarcerada no interior do ser. A humanidade está ferida, sangrando intensamente e não está encontrando a solução, porque a busca longe da sua essência.

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