“SUJANDO AS BOTAS”: AGRONOMIA DE IMERSÃO ENVOLVE ACADÊMICOS EM SÃO LUIZ GONZAGA





Quando nossos alunos iniciam um curso de graduação, muitos não atingiram a maioridade ainda. A faculdade de Agronomia exige cabeça aberta e conhecimento acumulado. Os estudantes carecem de experiência e grande parte deles são oriundos de famílias que vivem da agricultura convencional. É claro que não é demérito deles ou da família estarem inseridos no sistema agrícola atual. Entretanto, grande parte dessas propriedades está dessincronizada com o plano pedagógico que a UERGS adota. Enquanto a Universidade possui uma agronomia voltada para a agroecologia, os estudantes são oriundos do sistema convencional.
Eu costumo dizer para meus alunos que se eles conhecerem bem o agroecossistema, o restante é simples. Como os fenômenos da natureza influenciam na produtividade? Quantos dos fatores bióticos podemos influenciar? Quantos fatores abióticos podemos manipular?
Vivemos um momento diferente na história da agronomia. A produção ocorre em uma espécie de bolha tecnológica. Estamos apoiados em um número pequeno de tecnologias que, para serem aplicadas, exigem pouco conhecimento do agroecossistema. Queremos que nossos alunos não se prendam à simples “receitas de bolo”. Queremos que sejam realmente bons, conhecedores de tudo que circunda e apoia os fatores fundamentais do rendimento, que saibam planejar e produzir com uma pegada ambiental pequena e que possam fazer a diferença dentre os tantos agrônomos formados no RS.
Por isso tudo criamos em São Luiz Gonzaga um projeto chamado Agronomia de Imersão. Como temos três disciplinas que abordam a agroecologia em sequência (Bases Epistemológicas da Agroecologia, Fundamentos de Agroecossistemas I e II), teremos um ano e meio de contato direto falando sobre o assunto. Neste tempo e nestas disciplinas, o projeto propõe levar os alunos para o campo e aplicar os conceitos de forma prática. Dizemos que nossos alunos precisam sujar as botas.
Na Agronomia de Imersão, as turmas são divididas em quatro ou cinco grupos e recebem lotes de 15x20 metros. Nesses lotes, eles irão trabalhar por um ano e meio. Apresentam um projeto inicial sobre o que vão produzir, quando, e quanto. Fazem cronogramas e são avaliados com relatórios detalhados. Cada atividade que realizam exerce uma influência no meio, um impacto no ambiente, e eles precisam explicar. Nos relatórios devem mostrar que compreendem o efeito de cada atividade no agroecossistema sobre os fatores bióticos e abióticos.
Obviamente, temos regras. Os estudantes não podem utilizar insumos industrializados, tóxicos e sementes transgênicas. Podem escolher qualquer tipo de plantio. Mesmo quando observamos os projetos e sabemos que eles vão errar, deixamos acontecer, para que eles saibam corrigir os erros e avaliar suas atitudes. Não estão sendo avaliados por quanto produzem, ou qual grupo produz mais. Avaliamos como eles resolvem os problemas e como compreendem as consequências da atividade no campo.

No momento que estou escrevendo isso, estou na empolgação do dia seguinte ao primeiro dia da segunda turma no projeto. Passamos quatro horas nos lotes, discutindo o efeito da cobertura do solo, a diversificação, a posição dos plantios na paisagem e outras coisas que estaríamos vendo em slides na sala de aula. Quando o tempo se esgotou e a aula terminou, muitos alunos ficaram no campo, cortando a vegetação para semear nos próximos dias.
O próximo passo é tentar utilizar os lotes em outras disciplinas. Após o período de trabalho, os alunos terão observado os fenômenos naturais na prática. Esperamos que a experiência seja positiva. A primeira turma foi um piloto, está no terceiro e último semestre. A próxima já terá o projeto mais amadurecido, com as ideias dos próprios veteranos em prática. Esperamos que formemos agrônomos melhores e que possamos chamar a atenção para nosso curso de agronomia, e que as pessoas queiram fazer agronomia na UERGS.








Prof. Dr. Rafael Narciso Meirelles
Professor Adjunto de Agronomia – Uergs –      Unidade em São Luiz Gonzaga

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