Com o resultado do ENEM as discussões relacionadas à leitura e à escrita tornam-se inevitáveis
Com o resultado do ENEM as discussões relacionadas à leitura e à escrita tornam-se inevitáveis
Embora convivamos com a escrita diariamente, para muitos ela ainda representa um grande desafio, especialmente para alunos que estão concluindo o Ensino Médio e almejam ingressar no Ensino Superior. Após a divulgação do resultado da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), edição de 2014, este tema volta à tona com muita força e gera inúmeras reflexões e discussões.
Segundo dados do Portal EBC e Agência Brasil, mais exatamente 529.373 candidatos tiraram a nota zero na redação. Na outra ponta, apenas 250 obtiveram a nota máxima. Dentre os candidatos que zeraram a redação: 13.039 copiaram textos motivadores da prova; 7.824 escreveram menos de sete linhas; 4.444 não atenderam ao tipo textual solicitado; 3.362 zeraram por parte desconectada e 955 por ferirem os direitos humanos. Outras 1.508, por outros motivos.
Diante desses dados, acredito que um dos fatores que pode ter dificultado a escrita da redação, como já mencionado pelo professor de Língua Portuguesa Marcelo Freire, do Colégio JK de Brasília, em mídia nacional, pode ter sido a proposta de um tema abrangente que abordou a "Publicidade infantil em questão no Brasil". Tema este, que surpreendeu muitos candidatos, pois apesar de possibilitar inúmeras abordagens, para escrever sobre o mesmo o candidato precisaria ter um mínimo de conhecimento sobre o assunto. Além disso, precisaria ter o domínio da Língua Portuguesa, conhecimento do gênero textual solicitado – argumentativo-dissertativo, posicionamento crítico e capacidade de estabelecimento de relação entre os seus conhecimentos e os textos motivadores da prova. Tais habilidades são desenvolvidas especialmente por meio da leitura, refiro-me a leitura de textos de gêneros diversos, veiculados em diferentes suportes textuais como jornais, revistas, sites da internet, dentre outros, não apenas a leitura de livros e materiais indicados na escola, cujos materiais se fossem lidos, já representaria um excelente começo, no entanto poucos, realmente, dispõem-se a lê-los, outros leem partes ou simplesmente procuram resumos na internet. Infelizmente, com tais artimanhas, muito mais que enganar seus professores, estão enganando a si próprios, estão perdendo uma excelente oportunidade de evoluir e ampliar seus conhecimentos. Além disso, como estamos vivendo na sociedade do conhecimento, precisamos desenvolver, além da leitura de textos escritos, a nossa capacidade de leitura de mundo, muito mencionada por Paulo Freire em suas obras.
Falo da importância da leitura, pois quanto mais desenvolvermos o hábito da leitura, mais facilidade iremos ter para nos manifestarmos por escrito, para expressar por meio de palavras nossos pensamentos e sentimentos, para nos posicionarmos e argumentarmos sobre diferentes assuntos. Assim, se houvesse uma maior preocupação não só da escola, mas também das famílias em incentivar a prática da leitura e o comprometimento dos estudantes desde os Anos iniciais do Ensino Fundamental, dificilmente teríamos candidatos, que embora tenham passado 12 anos ou mais pelos bancos escolares, não conseguem discorrer mais de 7 linhas sobre um assunto ou simplesmente não conseguem atender ao gênero textual solicitado ou mais grave que isso, apresentam em seus textos ideias que ferem os direitos humanos.
lusippert@hotmail.com