Escrever se aprende escrevendo e reescrevendo

Escrever se aprende escrevendo e reescrevendo
Texto publicado no Jornal Novo Noroeste em 1 de Abril de 2016
Dificilmente vamos encontrar alguém que alguma vez já não tenha escrito e reescrito algum texto, nem que seja um bilhete ou um e-mail, por exemplo. Após concluir a escrita do texto e fazer a leitura do mesmo, percebe que este não está conseguindo transmitir a mensagem pretendida. Então, recorre ao processo de reescrita, fazendo os ajustes necessários tanto na escolha das palavras quanto na disposição destas nas orações, e das orações no texto de modo geral, para conseguir construir o(s) efeito(s) de sentido(s) esperado(s). No entanto, o que parece ser um processo natural de escrita, muitas vezes não acontece na produção dos textos escolares. O aluno escreve o texto e entrega o mesmo ao professor para que este faça a correção e, normalmente, fica esperando que o retorno seja com uma nota ou um conceito simplesmente. Quando isso acontece, o aluno ao receber o retorno do texto, simplesmente olha o resultado da avaliação e dificilmente dedica algum tempo para analisar as observações apresentadas pelo professor ao longo deste, sem falar que alguns simplesmente desfazem-se do mesmo diante da primeira lixeira que encontram, o que é lamentável!

Dito isso, gostaria de chamar a atenção para a importância que a reescrita desempenha no processo de aprendizagem da escrita. Na verdade, essa aprendizagem acontece efetivamente quando o aluno vai reescrever o texto produzido, pois é nesse momento que o autor se torna não apenas um escritor, mas um leitor crítico e se posiciona como tal. Assim, refazer os próprios textos, para além da correção gramatical e ortográfica, pode nos ajudar a desenvolver as possibilidades da língua e aguçar nosso senso crítico. Por isso é que muitos estudiosos da língua afirmam que reescrever é um componente fundamental do processo da escrita. A razão disso é que nenhum texto ganha forma da primeira vez em que as palavras são lançadas no papel. Reescreve-se para chegar ao que se quer dizer. Com isso, desenvolve-se o senso crítico e se aprende mais sobre as possibilidades da língua. Entre os fatores que mais comprometem a leitura está a falta de clareza, as falhas coesivas, a ausência ou pontuação inadequada, a quebra do paralelismo, o excesso de palavras, a redundância de ideias, as enumerações extensas e as imprecisões vocabulares. Tal exigência vai aumentando cada vez mais, dependendo da função e da comunidade discursiva em que este texto irá circular. Por isso é muito importante ir apropriando-se das estratégias de escrita, especialmente da reescrita, em cada oportunidade que se tem para escrever.

O processo de reescrita é "absolutamente comum entre os escritores (...), seja simultaneamente ao ato da escrita, seja posteriormente a ele", afirma Eliane Donaio Ruiz, na obra “Como corrigir Redações na Escola”, da Editora Contexto. Sendo assim, tal prática deveria ser incorporada ao ensino, desde os primeiros anos do Ensino Fundamental. Quem não aprende a reconhecer as suas falhas, bem como as dos outros, não terá como evitá-las. Se essa prática não acontecer, a correção ficará limitada à exposição dos problemas, sem que o aluno seja instigado a compreendê-los e a procurar resolvê-los. A reescrita não deve ser considerada uma punição, mas

uma oportunidade de compreender que a escrita é um processo e como tal precisa percorrer diferentes etapas.

Nesse sentido, todo o texto deveria passar pelo menos por cinco fases: o planejamento, a escrita, a avaliação, a reescrita e a comunicação. Essa avaliação, no entanto, não precisa ficar sempre a cargo do professor ou de outrem. A própria pessoa, quando escreve, precisa criar o hábito de deixar o texto “descansar”, como fala Martha Medeiros em uma de suas crônicas, para depois voltar ao mesmo e com um olhar crítico avaliá-lo em relação aos seus propósitos e aos elementos léxico-gramaticais selecionados para produzi-lo, considerando quem será seu provável leitor. Aqui também é importante destacar que na vida real toda vez que abrimos a boca para falar ou escrever alguma coisa, fazemos uso de textos, pois ninguém fala ou escreve palavras soltas por aí. Assim, é importante que na escola também se pense na função social dos textos produzidos, quem serão os interlocutores dos mesmos, aonde estes serão publicados, postados ou compartilhados. O processo de comunicação do que se produz é um elemento motivador da produção que não pode ficar esquecido.

Por fim, quando a reescrita se torna uma prática constante, com o tempo nos convencemos da sua importância e passamos a temer menos os erros, pois sabemos que eles são um ponto de partida para o acerto. Convencemo-nos de que todo o texto pode ser aperfeiçoado, por mais precário que seja o material produzido nas primeiras versões é a matéria-prima que poderá resultar em bons textos, basta querermos e nos esforçarmos para tal. Então, mãos à obra!

Luciane Sippert – Graduada em Letras, Especialista em Ensino-aprendizagem de Línguas, Mestre em Educação nas Ciências (UNIJUÍ), Doutoranda em Letras (UFRGS). Professora de Língua Portuguesa da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), Unidade de São Luiz Gonzaga. E:mail: lucianesippert@uergs.edu.br
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