[ARTIGOS DE OPINIÃO] A Difícil Arte de Ser Família

janeiro 23, 2018

Texto de Ramão Chagas

A família deveria ser constituída por sentimentos que se conectam, mas está cada vez mais fragilizada devido ao distanciamento entre seus membros. Há uma ruptura nas vozes que deveriam facilitar a comunicação e a convivência. Há um silenciar entre as pessoas como se um não conseguisse mais ouvir o outro, apesar de estarem sob o mesmo teto. Será que hoje podemos continuar chamando a família de sociedade tradicional? A tecnologia, com toda sua glória, facilitou a comunicação e o crescimento dos negócios, no entanto, também contribuiu para afastar as pessoas, porque tirou o encanto do som e o brilho das nossas palavras. Ficamos sem voz e passamos esse poder para a magnitude da tecnologia. Nossas palavras ficaram desvalorizadas, pois quando precisamos chegar mais tarde em casa, mandamos uma mensagem via celular.

Toda essa tecnologia está sufocando as características pessoais, e no seu lugar fomos presenteados com o estresse da modernidade. Hoje a comunicação entre as pessoas se dá de uma forma engessada, você manda um e-mail para quem não vê há tempo, ele chega ao destino com pouco ou nenhuma afetividade e volta do mesmo jeito. Nossas palavras estão ficando cada vez mais silenciosas e nosso afeto cada vez mais reprimido. Nesse contexto vamos apenas fazendo trocas, um e-mail por outro, e assim continuamos engarrafados, esperando ser libertos por alguém para dizer-lhe: faça três pedidos, você acabou de libertar o gênio.

A satisfação do abraço não é algo que possamos credenciar à internet ou a qualquer outro meio de comunicação, é algo pessoal e intransferível. O distanciamento entre os membros da família está numa velocidade descontrolada. Estamos perto e longe ao mesmo tempo e sabemos pouco do que se passa dentro do coração das pessoas que convivem conosco. Não há mais aquela reunião de família para cada um chorar as suas mágoas. Agora, que cada um resolva as suas. Então, podemos nos perguntar o que nos torna mais humanos, se já não podemos contar com a família? Acredito que são os sentimentos bons. A tecnologia é uma expressão do conhecimento humano colocada a seu benefício, mas o sentimento humano está acima de qualquer avanço material, pois é ele que nos interliga com a energia da felicidade.

Acredito que somos muito mais humanos quando nos deixamos entrelaçar no abraço direto ao amigo, parente ou vizinho. Nossas experiências humanas se completam quando nos atualizamos e nos conectamos com o sentimento do outro.

O mundo que os humanos criaram desvalorizou muito as palavras e afastou as pessoas, então nos perguntamos: o mundo em que vivemos é justo conosco? Será que as avalanches que caem sobre nossas cabeças são justas? Quantas vezes usamos a expressão de que certos acontecimentos não são justos, principalmente quando respingam sobre nós. Mas o que não atinge você pode causar sofrimento no outro. A balança da justiça e da injustiça um dia está a seu favor, no outro dia contra você. O que é justo para você, pode não ser para o outro. Esse conceito do que é justo e injusto, continua sendo o grande responsável por todas as guerras do mundo. Todos os conceitos estão em nossa mente, vemos os acontecimentos, conceituamos e os colocamos numa ordem de prioridade, no entanto, é comum deixarmos essas prioridades perderem a validade.

Será que é possível viver dentro de um mundo mecanizado e ainda esperar que a nossa sensibilidade nos faça parar diante de algo belo, para mergulharmos num estado de contemplação? Seria ótimo, mas este é um exercício que os humanos estão deixando de praticar. Parece que já não temos mais tempo para as coisas do coração. A saída que encontramos, como desculpa, é dizer que o mundo é muito dinâmico e que precisamos acompanhar sua velocidade. Um dia você morre e toda essa velocidade não lhe trouxe grandes alegrias.

Hoje temos muito mais longevidade, mas isso não significa que temos mais felicidade. As pessoas se estressam e se angustiam porque precisam gerenciar até mesmo os supérfluos. E onde fica a beleza da vida? Perdida em meio aos escombros dos nossos devaneios.

Você até pode enxergar seus defeitos, ou algo que precise ser modificado, porém se sua mente é cega, não há diferença entre o ver e o não ver. Mas apesar de tudo isso temos que continuar vivendo cada um com a sua própria filosofia, e podemos escolher entre muitas. Há as que pregam a reencarnação, a ressurreição e as que pregam que depois da morte, acabou, não há mais nada. Enfim, vivemos cercados de escolhas e através delas formatamos nosso jeito de viver e criamos os nossos sentimentos. Pode parecer estranho, mas nossos sentimentos vão se desenvolvendo à medida que crescemos e evoluímos dentro das nossas crenças.

Depois de um determinado tempo, podemos analisar com quais sentimentos estamos mais adaptados. Na verdade, há pessoas que se aliaram a sentimentos de baixa frequência, como ódio, ciúme, rancor, ressentimento, mágoa, preguiça e intolerância. O número é bastante considerável, mas tudo é fruto de como você escolheu viver. Pessoas mal resolvidas, normalmente são infelizes.

Conhece ciúme bom? E o ruim? Será que também há amor bom e ruim? As interpretações são variadas, depende de cada pessoa. Amor bom, por exemplo, é aquele que não pede nada a você. Amor ruim é aquele que está sempre mendigando alguma coisa ou sugando sua energia. Se for amor ruim então não é amor, não é mesmo? Estamos fadados a morrer com nossa ignorância ou sabedoria, família ou na solidão. Mas podemos ter a certeza de uma coisa: antes de acabar nosso piquenique aqui na Terra, teremos provado um pouco de tudo. Seria bem triste se a pessoa provou um pouco de tudo que não é bom, e do bom, provou bem pouco.

Subimos e descemos da nossa montanha russa de sentimentos. Há dias em que estamos bem, mas há dias que não suportamos nossa própria pessoa. Vivemos no meio da multidão, praticamente todos estranhos, mas há aquelas pessoas que são as que permanecem fora da multidão porque vivem em nossa pequena sociedade chamada família. Você pode esperar muito delas e dar muito pouco, ou você pode dar muito e não receber quase nada. Como evitar se isso é parte da vida? Se você quiser algo da vida ou de pessoas, primeiro ajeite sua mente para o que quer receber. Paz e Prosperidade a você!
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