O que vem a ser um texto dissertativo-argumentativo?

O que vem a ser um texto dissertativo-argumentativo?

No último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado no ano de 2014, uma situação chamou minha atenção, dentre outros motivos, 4.444 estudantes zeraram na prova de redação por não atenderem ao tipo textual solicitado: dissertação-argumentativa. Assim, achei relevante apresentar nesta coluna algumas informações a respeito.


       A linguagem tem forte caráter persuasivo e argumentativo. Característica esta que se espera evidenciar nas redações elaboradas por estudantes que pretendem ingressar no Ensino Superior. Para tanto, primeiramente, é importante saber a diferença entre argumentação e dissertação.

       Na obra “Comunicação em prosa moderna”, Othon Garcia destaca que a argumentação tem como propósito principal convencer, persuadir ou influenciar o leitor ou ouvinte enquanto que a dissertação tem como pretensão expressar o que sabe ou acredita saber a respeito de determinado assunto, trata-se de um texto por meio do qual externamos nossa opinião sobre o que é ou parece ser e visa expor, explicar ou interpelar ideias. Dissertar é o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, discorrer sobre ele. Assim, o texto dissertativo pertence ao grupo dos textos expositivos, juntamente com o texto de apresentação científica, o relatório, o texto didático, o artigo enciclopédico. Em princípio, o texto dissertativo não está comprometido com a persuasão, mas com a transmissão de conhecimentos. No texto argumentativo, pretende-se principalmente formar a opinião do leitor ou ouvinte, tentando convencê-lo de que a razão está conosco ou com o locutor, que está de posse da verdade. Quando o texto, além de explicar, também persuade o interlocutor e modifica seu comportamento, temos um texto dissertativo-argumentativo.

       O ato de argumentar é muito antigo, assim questionamos o porquê de ainda estudá-lo na contemporaneidade. Como se sabe, as palavras podem ser usadas tanto para informar quanto para criar realidades, uma vez que não são neutras, ou seja, ao constituírem discursos vêm carregadas de sentidos e ideologias. Além disso, existem inúmeros aspectos formais e gramaticais que atuam como operadores argumentativos, por meio de sentidos implícitos e subentendidos. Desta forma, se não analisarmos como funcionam os promotores desses sentidos, não perceberemos a argumentatividade dos textos e seremos facilmente persuadidos para não dizer manipulados, pois é em decorrência da falta desse conhecimento que se efetiva a manipulação da massa. O conhecimento dos mecanismos de argumentação amplia os níveis de leitura, ou seja, desenvolve a capacidade de ler os não-ditos, os implícitos ou subentendidos, os pressupostos, percebendo, ou lendo, o que está “oculto”.

       Portanto, conhecer as características linguísticas e pragmáticas de um texto dissertativo-argumentativo torna-se imprescindível para produzi-lo, por isso é importante ter em mente que este gênero textual envolve especialmente a proposição de uma tese a partir de um determinado tema. Esta tese é constituída por uma afirmação que o argumentador submete a aprovação de um interlocutor. Para tanto, precisa utilizar-se de argumentos para persuadir e fazer com que o receptor aceite o que foi comunicado, levando-o a crer no que foi dito e a fazer o que foi proposto se for o caso. Assim. O argumento consiste no recurso utilizado (prova concreta, argumento de autoridade, raciocínio lógico, competência linguística...) que sustenta ou respalda a tese.

       Na argumentação, o sujeito pode tomar um dos seguintes procedimentos em relação ao campo problemático:

a) ser favorável - de acordo, defende a questão apresentada, procurando justificá-la, provar sua veracidade;

b) ser desfavorável - em desacordo, refuta o problema, questiona-o, procura declará-lo falso, provar sua falsidade;

c) ponderar - questiona o problema apresentado e desenvolve um ato de persuasão que mostra as provas do verdadeiro e do falso. Há um levantamento dos prós e dos contras.

       Procurei trazer aqui, apenas alguns aspectos relacionados ao tipo textual solicitado na Prova de Redação do Enem atendendo a alguns e-mails recebidos, interessados em aprofundar-se nesse assunto também poderão consultar o Blog do Enem (http://blogdoenem.com.br/redacao-enem-dissertativo-argumentativo/), no qual terão a oportunidade de ler algumas redações que tiveram a nota 1000 e mais algumas dicas interessantes sobre como planejar e estruturar o seu texto.

       Por fim, gostaria de destacar que não há formula mágica para escrever. “Escrever se aprende escrevendo”, desejo sucesso a todos que desejam aventurar-se pelos caminhos da escrita.

Comentários, sugestões e dúvidas relacionadas à Educação e à Língua Portuguesa, que gostariam de ver respondidas nesta coluna, poderão ser enviados para o e-mail: sippert.luciane@gmail.com.
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